sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

CLARICE EM MEU QUINTAL




Ao longo de uma vida somos afetados, por personagens que deixam tanto em nós que algumas vezes é como se  uma relação tão próxima e íntima fosse realmente palpável...
É assim que sinto acerca de Clarice em minha vida, quando li pela primeira vez, tinha questionamentos, revoltas, dores, incertezas, medo, sonhos...tinha 13 anos.
Foi uma catarse de sentimentos, palavras...ela sabia...ela escrevia o que eu sentia...
E parecia que escrevia para e sobre mim...
Entre 12 e 15 de novembro durante a FLIPORTO, Clarice esteve onipresente aqui...em casa
Sua Olinda querida de seus banhos, sua recife amada de seus alicerces...
Extremamente enriquecedor ver os debates e as amplas visões que sua obra e sua mítica figura desperta,  a literatura judaica foi o ensejo e, a homenagem àc judia Clarice em minha visão, foi a melhor coisa que aconteceu à fliporto...
A palestra de abertura trouxe uma senhorinha frágil, querida avó para nos falar da pior coisa que pode acontecer...o ser humano destruir sua própria raça, Eva Schloss, irmã da judia holandesa Anne Frank,  uma entrevista presidida por Geneton Moraes neto e o escritor gaúcho Moacyr Scliar.
Foi brilhante, emocionante...sua lucidez e posições ao falar sobre as barbáries...mas extremamente íntimo e diria até sofrido, ver tantas reminiscências e detalhes do cotidiano serem assim
Rasgadas ao público...ao longo dos anos, ao longo de uma vida, ora, se é o cotidiano, se é de nossa infância que guardamos maior memória e sentimentos que vão nos acompanhar...
Quão doloroso é fazer disto
Uma missão... brava Eva, que não teve escolha...foi escolhida...
Em determinado momento Geneton pediu para Eva mostrar a tatuagem dos números que carregava em seus braços, houve um desconforto geral, e ao perceber ou ser alertado, justificou-se
Dizendo que isto não incomodava a Eva, ela fazia questão...
Desnecessário...penso!
O debate entre Nádia Gotlib e o americano Benjamin Moser foi o melhor de todos, dois biógrafos apaixonados pela figura pela arte daquela mulher...
Porém com visões e obras totalmente díspares, o trabalho de Nádia é uma jóia rara...bem trabalhada
Onde paralelos entre a escrita e a pessoa são traçados, tão lindamente, de forma tão sutil, que é impossível não se sentir amando a pessoa Clarice e querendo ler ou reler seus textos, o trabalho do benjamim, tem um fundo histórico, judaico incrustado, bela obra...
Porém penso, apenas uma mulher pode ver além da alma de Clarice, e Nádia cumpre esta missão com maestria, sinto-me perto dela ao ler Nádia, muitas vezes ri com a “leve indignação” da brasileira
Diante de fatos abordados per Benjamin como verídicos,como o suposto estupro de sua mãe, ou datas cronológicas..era engraçado e leve, dois intelectuais mesmo que sem expor claramente
Defendendo sua cria em detrimento do outro...
São duas obras que se completam,a mulher a escritora a judia...
Olinda respirou Clarice, onde Clarice recebeu-a para sempre em sua alma...
Senti-me feliz em tê-la novamente aqui...pertinho...
Na cerimônia de encerramento, ela esteve mais uma vez ali...materializada na carne de Beth Goulart, com seu sotaque seu olhar fulminante...
Momentos transmutados em um épico...quando Clarice fala...tudo faz sentido...
Se esta terra deixou-lhes marcas profundas em sua alma, ela nos deixou em cada lugar
Sua presença, e á certeza de que Sentir também é uma arte.......

 Moacyr Scliar e Eva Schloss


cartaz da peça "simplesmente eu, clarice lispector" com Beth goulart que encerrou a FLIPORTO.


Eva Schloss  no momento em que mostra a tatuagem em seu braço
e com o jornalista  Geneton Moraes Neto
Debate entre Benjamin Moser e Nádia Gotlib

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