sábado, 11 de dezembro de 2010

Sobre o que escreve Clarice?

Sobre o que escreve Clarice?

Esta pergunta feita por uma grande amiga me emudeceu...
Fiquei sem palavras para explanar por muitos minutos o assunto ( coisa que faço muito quando gosto de algo e que deve ser chato pra quem ouve rsrsrs).
Sobre o que ela escreve? Esta pergunta veio de uma pessoa que nunca a leu, e diante de meu entusiasmo teve a mais natural reação, questionar sobre o que a pessoa escreve?
 e eu não soube dizer...
Isto me inquietou a tal ponto, que passei uns dias a pensar, e cheguei à uma conclusão minha, só minha.
Encontrar-se com uma obra de Clarice é uma experiência única, ou se ama ou odeia-se.
A reação é imediata, Clarice escreve sobre gente, sobre humano, existir... sobre à vida.
Lembro-me do impacto que tive ao ler laços de família, meu primeiro contato com sua obra.
Senti-me nua diante daquela alma que escrevia, ela entendia meu mundinho...
Cheio de questionamentos, de certezas e medos e uma audácia só vista em adolescentes, meus 13 anos me permitiram uma simbiose completa com Clarice...
Era uma torrente de emoções descritas da maneira como eu sentia... a cada página lida meu fascínio crescia...
Hoje ao reler cada palavra sua, uma coisa nova é dita.
Clarice escreve sobre as mulheres...
Nenhum outro ser consegue tão alto grau de evolução, a mulher é forte e frágil, mística mas extremamente prática, vai as compras e devaneia sobre a paixão...as mulheres de Clarice somos nós, todas...em todos os ciclos...um manancial de vida...
Clarice escreve sobre o amor...
Em todas suas formas; atormentado, revelador, amor que consome e é combustível...
Clarice escreve sobre o que sentimos...
Escreve sobre o que somos e temos medo de assumir, sobre o que vemos nos outros e fechamos os olhos, é a paisagem que no cartão postal mostra o mar a areia e as mazelas...
Mergulhar em sua obra é fazer um mergulho em si mesmo, é ter exposto coisas que você não revela, é uma inquietação deliciosa...
Ela não se poupa, nem a nós...
Ela escreve! No presente, pois sua obra é imortal, atemporal, e cada vez que relemos, descobrimos um novo significado...
Me atrevo a dizer que não lhe afetará o que eu penso acerca do que ela escreve...
Ao lê-la verás que ela escreve para ti...unicamente!

Como ela nos disse:
“Pensar é um ato. Sentir é um fato”

  estátua de Clarice na praça Maciel pinheiro, Recife onde morou na infância.
detalhe da máquina de escrever em seu colo.

Um comentário:

  1. Paulinha ler Clarice é uma verdadeira "Felicidade Clandestina". Belo texto seu. Realmente é difícil traduzir em poucas palavras o entusiasmo com algo tão subjetivo feito a ucraniana/recifenses falava.

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